sexta-feira, 15 de julho de 2011

"o violão é minha metade"


são com as palavras dele que entitulo o post de hoje...




nascido no dia 6 de agosto de 1937 numa cidadezinha no norte do rio de janeiro chamada "varre-e-sai", baden powell é considerado um dos maiores compositores e violonistas da sua geração. e, convenhamos, seria blasfêmia dizer o contrário. seu pai, lilo de aquino - o 'seu tic' - era sapateiro de profissão e chefe de escoteiro, de onde veio o nome deste grande artista, uma homenagem ao fundador do escotismo: o general britânico robert thompson s. s. baden powell.

seu interesse pela música iniciou-se aos oito anos, quando se apaixonou por um violão que sua tia ganhara numa rifa: "eu vou tocar você!". pegou o instrumento escondido e o guardou enrolado numa toalha debaixo de sua cama, tornando-se cada vez mais fascinado com os sons que dele tirava. o primeiro incentivador foi seu tic que, notando seu talento nato, começou a ensinar as primeiras posições de acordes do instrumento.

como sempre, gosto de trazer aqui coisas novas, inusitadas. viajando por essa maré virtual, encontrei uma história muito interessante sobre baden e vinícius de moraes, seu parceiro em várias composições, contada por seu filho:

"'toda música tem uma história' era o que baden costumava dizer sobre sua parceria com vinícius de moraes. dentre as várias histórias que ouvi ele contar em shows e em casa, tem uma que considero especial - sobre uma das mais belas e conhecidas canções de baden e vinícius. resolvi manter a versão original do fato tal como o papai contava... philippe baden powel.

certo dia, baden chegou à casa do poetinha trazendo nos dedos uma belíssima melodia que compôs num momento muito inspirado. era por volta das nove da noite, quando baden apresentou a melodia e vinícius ficou logo muito empolgado com a música que inspiraria mais uma bela poesia:

- puxa, badinho, que música linda! toca de novo!
baden, também entusiasmado com a empolgação do poeta, tornou a tocar a música. e entraram pela noite tocando e a ouvindo várias vezes, fazendo uma pausa de vez em quando pra conversar sobre os mais variados assuntos, como assombração, mula sem cabeça... isso tudo regado a muito whisky (papai contava que nessa noite foram umas quatro garrafas!). a madrugada chegou logo, as garrafas foram se acumulando e o baden foi ficando meio desconfiado de alguma coisa, pois o vinícius estava pedindo pra ele tocar a música desde cedo e não havia mencionado nada sobre a letra. vinícius tornou a pedir para ele tocar e o baden então perguntou:

- espera aí, vinícius, tá tudo certo, mas... cadê a letra?

- a letra? bom, na verdade aconteceu uma coisa, é... eu não vou fazer essa letra mais não!

- como assim? estamos aqui, só nós dois, juntos desde cedo, tocando e bebendo, agora são altas horas e você me diz que não vai fazer a letra! o que houve?

- não foi nada demais. mas, eu prefiro não dizer, vamos deixar isso pra lá.

- não, vinícius, agora você vai me dizer o que houve.

- sabe o que é badinho, essa música que você fez é plágio!

- plágio?! como assim, vinícius?

- é, badinho, um plágio!

- não, vinícius, você tá enganado...

- é, baden, eu tenho certeza. por isso não vou fazer essa letra. depois vai sair nos jornais: 'a dupla baden e vinícius plageiam...'. fica chato, entende? 

- mas, vinícius, essa melodia me veio por inteira, eu fiz de uma vez, não pode ser plágio!

- é sim, baden, tenho certeza!

- mas plágio de quê, de quem?

- ora, baden, isso aí é um prelúdio de chopin!

- não, vinícius, você está enganado. você bebeu demais e está confundindo as bolas.

- não, baden, você foi quem bebeu demais. fez uma música de chopin e tá achando que é sua.

- mas, vinícius, eu conheço os prelúdios de chopin, estudei todos. te garanto que não tem nada de chopin nessa música!

- eu também conheço, baden, meu ouvido não falha. isso aí é chopin com certeza! quer ver só? eu vou acordar minha mulher que é formada em piano e conhece tudo, espera aí...

- não faz isso, vinícius. tá muito tarde e a gente tá com um bafo danado...

- tudo bem, ela já ta acostumada.

e lá foi vinícius chamar sua mulher que, na época, era a lucinha proença. ela chegou na sala sem saber o que estava acontecendo, mas vendo a cena, perguntou:

- oi, baden, tudo bem? vocês querem um café?

- não, lucinha, sobretudo não vamos misturar... obrigado!

vinícius retomou seu lugar e, dirigindo-se a baden, disse meio ríspido:

- toca! 

baden executou e vinícius ficou esperando algum comentário da lucinha que, em silêncio, não sabia o que dizer diante da visível expectativa do poeta:

- como é, você não vai dizer nada?

- como assim, o que você quer que eu diga?

- toca de novo, baden!

ao final desse bis, vinícius novamente perguntou para a mulher:

- isso não é chopin?

- não.

- é uma canção romântica, é muito bonita, mas não é chopin.

- ah, então você também tá contra mim?

fez-se então um silêncio que confirmou um grande mau entendido da parte do poeta que, com muita astúcia, concluiu:

- então chopin esqueceu de fazer essa!

vinícius pegou o papel e caneta, e escreveu quase que instantaneamente uma belíssima poesia, e a música foi batizada de "samba em prelúdio"


samba em prelúdio

eu sem você não tenho porque
porque sem você não sei nem chorar
sou chama sem luz, jardim sem luar
luar sem amor, amor sem se dar
e eu sem você sou só desamor
um barco sem mar, um campo sem flor
tristeza que vai, tristeza que vem
sem você, meu amor, eu não sou ninguém
ah, que saudade
que vontade de ver renascer nossa vida
volta querido
os meus braços precisam dos teus
teus abraços precisam dos meus
estou tão sozinha
tenho os olhos cansados de olhar para o além
vem ver a vida
sem você, meu amor, eu não sou ninguém


sensacional!

volto em breve com mais baden!

abraços, meu povo!

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