domingo, 13 de novembro de 2011

chico.

olá, pessoas que ainda seguem meu blog abandonado. depois de um bom tempo longe daqui, volto pra falar de chico. apelei pra tentar me redimir!




pra contar um pouco da história dele, nada melhor do que seu pai, sérgio buarque de hollanda, em depoimento realizado em 1968 e publicado em 1991 pela folha de são paulo (é um pouco longo, mas vale mesmo a pena):

"a imagem que o público fixou de meu filho não é correta. para o público, chico é tímido (antes de tudo, tímido), bonzinho, retraído. nada disso. pelo menos em família e com os amigos, é completamente diferente, um rapaz brincalhão, extrovertido, bem para fora. quando ele aparece em público, torna-se diferente. talvez seja o medo de parecer ridículo. mas podem crer, ele não é tímido, nem bonzinho. é, sem dúvida, uma boa pessoa. mas não bonzinho, no sentido em que esta palavra é interpretada. quando criança, jamais foi um rebelde. posso assegurar que se tratava de uma criança normal.

procurava sempre ser independente. e essa independência ele afirmava, procurando fazer o que faziam os irmãos mais velhos. nem um "amor de criança", nem um "enfant terrible". normal. não era nem ligado ao pai, nem à mãe. dava-se bem com todos. com as irmãs, tias e avós. quando viajamos para a itália (nesse tempo tinha 8 anos), deixou para a avó um bilhete: "avó, vou para itália. quando eu voltar, provavelmente a senhora estará morta. mas não se preocupe. eu vou me tornar um cantor de rádio. é só a senhora ligar o rádio do céu que vai me escutar".

desde menino, sempre se interessou por música e futebol. jogo, não perdia uma irradiação. seus ídolos eram telê, do fluminense, e pagão, do santos. na itália, torcia pelo genoa. da música popular, seus ídolos eram ismael silva, caymmi e ataulfo alves. mais tarde, joão gilberto, de quem procurava imitar o estilo. não acredito que noel exerça influência sobre chico. a maior semelhança entre os dois é a temática: urbana. caymmi, ataulfo e ismael marcaram mais que noel. chico tambem não é um compositor de classe média, como afirmam por aí. não há dúvida, noel e chico também se assemelham um pouco, porque ambos enfocam temas urbanos. nada mais. aliás, há no brasil uma mania de noel! qualquer compositor que surge é imediatamente comparado com o grande criador carioca. creio que há um pouco de exagero em tudo isso.

quando surgiu a bossa nova, chico se encontrou com ela. apreciava muito joão gilberto e ouvia-o seguidas vezes. vinícius, muito amigo da família, aparecia sempre em festas e chico ficava a ouví-lo, com grande admiração.

desde cedo, chico já tinha namorada. sempre foi muito vivo e alegre. jogava futebol nas ruas, como todos os garotos de sua idade. quanto aos estudos, dedicava-se a eles principalmente às vésperas de exame. estudava duas ou três horas seguidas, depois cansava e ia se divertir. em 1962, quando terminou o curso científico, foi orador da turma, provocando muitas risadas com seu discurso cheio de humor.

o sucesso não o mudou essencialmente, chateia-o um pouco, apenas. hoje, não pode sair às ruas sem que lhe venham pedir autógrafos. para ir à praia, há dificuldades, só em são conrado. bem longe. continua fiel aos amigos, embora não tenha muito tempo para se dedicar a eles. assim que chega em são paulo, telefona para todos, organiza noitada com eles. chico sempre viveu em bando, com muitos amigos, uma verdadeira turma.

sua formação é, sem dúvida, paulista. nasceu no rio, mas quando completou 2 anos, mudamos para são paulo. aqui, passou toda sua infância. preferiu fazer o científico porque achava que o curso clássico era coisa de mulher. dado momento, escolheu um ramo bem aproximado do artístico: arquitetura. ficava em casa criando cidades imaginárias. todas tinham uma fonte no meio da praça: lembrança das fontes de roma, onde moramos algum tempo. chico, em vez de começar a falar, cantou. desde que tentou se expressar foi através da música. mais tarde, ficava com as irmãs aí pela sala, inventando música. dizia que já que não conhecia decor música de outros compositores, era obrigado a inventar as próprias. o sucesso veio de repente, sem que ninguém esperasse. recebi a notícia de que chico tinha ganho o festival de música popular brasileira com "a banda", quando estava em nova york. um jornal norte americano publicou a notícia. claro que me senti muito orgulhoso. cheguei à conclusão - o que uma revista publicou na época - de que, antes, ele era meu filho. e depois do festival eu passei a ser o pai dele. não há posição melhor. têm surgido boatos por aí, de que eu componho as músicas pra ele. mas, meu deus, quem sou eu para ter tanto talento? se eu soubesse escrever músicas como ele, há muito tempo não seria eu mesmo, mas chico buarque de hollanda. são boatos sem fundamentos, como muitos que vão por aí. como essas notícias que circulam, afirmando coisas que jamais afirmamos. um jornal carioca publicou que, após ver a peça "roda viva", eu tinha dito: "eu sabia que havia tudo isso aí dentro do meu filho". a frase talvez pudesse ter sido dita por mim, mas que não disse, não disse. das suas músicas todas, gosto mais de "a banda", "pedro pedreiro", "roda viva" e "carolina". nunca me esquecerei do dia em que ouvi " a banda" pela primeira vez, em nova york, na casa de um amigo. foi uma grande emoção. não obstante todo o sucesso, o qual não lhe provoca muito prazer, é bem capaz de chico largar tudo isso e partir para uma outra coisa qualquer, bem diferente. ele é bem capaz disso. muito inquieto. muito inteligente. sempre gostou muito de ler. guimarães rosa é um de seus autores preferidos. quando fez "pedro pedreiro", inventou uma palavra: penseiro. talvez inspirado em guimarães rosa, que também era dado a inventar palavras. tolstoi e dostoiévski também eram seus favoritos. assim como kafka. em geral, ele ia lendo tudo o que caía em suas mãos.

a música era responsável por ele ter abandonado o curso de arquitetura, decisão que tomou sozinho. o sucesso abriu uma impossibilidade de estudar. excesso de compromissos, solicitações. creio que, na música, ele se realiza mais, se torna muito mais feliz. é preferível um compositor realizado, que um arquiteto frustrado, como todo mundo sabe. quando vai compor, geralmente fica isolado, no quarto, sozinho. a música e a letra sempre nascem juntas, uma ligada à outra, indissoluvelmente. encontrou grande dificuldade em musicar "morte e vida severina", porque a letra não era sua. desde que aprendeu a tocar violão, com sua irmã heloisa, hoje casada com joão gilberto e morando em nova york, nunca mais deixou de compor. sua adolescência foi normal, sem nenhum conflito especial. posso considerá-lo um rapaz feliz. suas primeiras composições falavam de amor. mais tarde, quando ingressou na faculdade, passou a fazer música de participação, sendo que a primeira foi "pedro pedreiro". a família ficou um pouco tonta com o sucesso tão fulminante, tão rápido. mas já nos acostumamos. chico é que não se habituou a ele. ficou contente de ter ido a paris, porque ninguém o conhecia por lá. talvez o sucesso tenha provocado uma espécie de defesa, tornando-o um pouco retraído. de fato, meu filho não é tímido. é bem diferente a imagem que temos dele. trata-se de uma pessoa normal, alegre, sem problemas graves de personalidade. eu sei o que eu estou falando. sou seu pai há 23 anos."

descrição sincera de um pai notavelmente orgulhoso.

fiquei escolhendo por muito tempo com qual música encerraria este post. demorei horas... resolvi colocar o vídeo de sua apresentação no festival de música popular brasileira de 1967, interpretando "roda viva" junto ao mpb4. espero que eu tenha sido acertiva...


roda viva

tem dias que a gente se sente
como quem partiu ou morreu
a gente estancou de repente
ou foi o mundo então que cresceu...

a gente quer ter voz ativa
no nosso destino mandar
mas eis que chega a roda viva
e carrega o destino pra lá...

roda mundo, roda gigante
roda moinho, roda pião
o tempo rodou num instante
nas voltas do meu coração...

a gente vai contra a corrente
até não poder resistir
na volta do barco é que sente
o quanto deixou de cumprir

faz tempo que a gente cultiva
a mais linda roseira que há
mas eis que chega a roda viva
e carrega a roseira pra lá...

roda mundo, roda gigante
roda moinho, roda pião
o tempo rodou num instante
nas voltas do meu coração...

a roda da saia mulata
não quer mais rodar não senhor
não posso fazer serenata
a roda de samba acabou...

a gente toma a inciativa
viola na rua a cantar
mas eis que chega a roda viva
e carrega a viola pra lá...

roda mundo, roda gigante
roda moinho, roda pião
o tempo rodou num instante
nas voltas do meu coração...

o samba, a viola, a roseira
que um dia a fogueira queimou
foi tudo ilusão passageira
que a brisa primeira levou...

no peito a saudade cativa
faz força pro tempo parar
mas eis que chega a roda viva
e carrega a saudade pra lá...

roda mundo, roda gigante
roda moinho, roda pião
o tempo rodou num instante
nas rodas do meu coração.





beijO.


domingo, 18 de setembro de 2011

de dentro pra fora.

ia começar o post de hoje desculpando-me pelo longo período em que me ausentei desse meu desabafo em linhas e entrelinhas. mas pensando um pouco melhor, seria um pouco de pretensão da minha parte. por isso, vou apenas presenteá-los com uma obra de arte antes de dar início ao que realmente vim falar.

"dançarina" - joan miró i ferrà (1893 - 1983)


não que eu seja grande conhecedora deste ramo artístico, aliás muito pelo contrário. resolvi colocá-la aqui pela sensação nostálgica que esta obra em especial me traz. quando eu tinha uns 12 ou 13 anos, não me lembro direito, minha escola inaugurava a "casa da arte", dedicada ao desenvolvimento de atividades artísticas como teatro, música, dança etc. uma das atividades propostas na época era a de personalizar as paredes desta casa, onde cada dupla escolheu uma obra para reproduzir. dentre pintores renomados como tarsila, monet e da vinci que meus colegas escolheram, optamos por miró. lembro que pouco o conhecia, e que esta obra nos escolheu, por assim dizer.

lendo um pouco sobre o artista e esta criação, pude entender um pouco melhor o motivo desse meu encantamento: miró cria sua própria linguagem, retratando a natureza como o faria um homem primitivo ou uma criança. cria meios de expressão metafóricos através de signos poéticos e transcendentais. é o caso de "dançarina". podemos vê-la retratada, misteriosa, embora ausente no vasto azul. No canto a lua que, indecisa, não sabe se omite ou se ilumina o coração solitário. coração solitário...

aproveitando o ensejo, prossigo com o que vim compartilhar com vocês. espero que tenham gostado desse pedacinho da minha história...

tenho falado bastante sobre música. definitivamente, é a forma de arte com que mais me identifico. hoje trago mais uma daquelas que dizem mais do que nossos ouvidos podem ouvir. também dizem aquilo que nosso coração pode sentir.



tocando em frente - almir sater

ando devagar
porque já tive pressa

e levo esse sorriso
porque já chorei demais


hoje me sinto mais forte,
mais feliz, quem sabe
só levo a certeza
de que muito pouco sei,
ou nada sei


conhecer as manhas
e as manhãs
o sabor das massas
e das maçãs

é preciso amor
pra poder pulsar

é preciso paz pra poder sorrir
é preciso a chuva para florir

penso que cumprir a vida
seja simplesmente
compreender a marcha

e ir tocando em frente

como um velho boiadeiro
levando a boiada
eu vou tocando os dias
pela longa estrada, eu vou
estrada eu sou


conhecer as manhas
e as manhãs
o sabor das massas
e das maçãs

é preciso amor
pra poder pulsar

é preciso paz pra poder sorrir
é preciso a chuva para florir

todo mundo ama um dia,
todo mundo chora
um dia a gente chega

e no outro vai embora

cada um de nós compõe a sua história
cada ser em si
carrega o dom de ser capaz
e ser feliz


conhecer as manhas
e as manhãs
o sabor das massas
e das maçãs

é preciso amor
pra poder pulsar

é preciso paz pra poder sorrir
é preciso a chuva para florir

ando devagar
porque já tive pressa

e levo esse sorriso
porque já chorei demais


cada um de nós compõe a sua história
cada ser em si
carrega o dom de ser capaz

e ser feliz



essa música realmente me emociona.

uma boa semana a todos.






segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"só pra provar que ainda sou tua..."


geralmente eu coloco a letra das músicas pra vocês acompanharem.

mas essa vale a pena sentí-la apenas.

chico buarque por elis. arrepia.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

none but ourselves can free our mind.: "o violão é minha metade"

none but ourselves can free our mind.: "o violão é minha metade"

"o violão é minha metade"


são com as palavras dele que entitulo o post de hoje...




nascido no dia 6 de agosto de 1937 numa cidadezinha no norte do rio de janeiro chamada "varre-e-sai", baden powell é considerado um dos maiores compositores e violonistas da sua geração. e, convenhamos, seria blasfêmia dizer o contrário. seu pai, lilo de aquino - o 'seu tic' - era sapateiro de profissão e chefe de escoteiro, de onde veio o nome deste grande artista, uma homenagem ao fundador do escotismo: o general britânico robert thompson s. s. baden powell.

seu interesse pela música iniciou-se aos oito anos, quando se apaixonou por um violão que sua tia ganhara numa rifa: "eu vou tocar você!". pegou o instrumento escondido e o guardou enrolado numa toalha debaixo de sua cama, tornando-se cada vez mais fascinado com os sons que dele tirava. o primeiro incentivador foi seu tic que, notando seu talento nato, começou a ensinar as primeiras posições de acordes do instrumento.

como sempre, gosto de trazer aqui coisas novas, inusitadas. viajando por essa maré virtual, encontrei uma história muito interessante sobre baden e vinícius de moraes, seu parceiro em várias composições, contada por seu filho:

"'toda música tem uma história' era o que baden costumava dizer sobre sua parceria com vinícius de moraes. dentre as várias histórias que ouvi ele contar em shows e em casa, tem uma que considero especial - sobre uma das mais belas e conhecidas canções de baden e vinícius. resolvi manter a versão original do fato tal como o papai contava... philippe baden powel.

certo dia, baden chegou à casa do poetinha trazendo nos dedos uma belíssima melodia que compôs num momento muito inspirado. era por volta das nove da noite, quando baden apresentou a melodia e vinícius ficou logo muito empolgado com a música que inspiraria mais uma bela poesia:

- puxa, badinho, que música linda! toca de novo!
baden, também entusiasmado com a empolgação do poeta, tornou a tocar a música. e entraram pela noite tocando e a ouvindo várias vezes, fazendo uma pausa de vez em quando pra conversar sobre os mais variados assuntos, como assombração, mula sem cabeça... isso tudo regado a muito whisky (papai contava que nessa noite foram umas quatro garrafas!). a madrugada chegou logo, as garrafas foram se acumulando e o baden foi ficando meio desconfiado de alguma coisa, pois o vinícius estava pedindo pra ele tocar a música desde cedo e não havia mencionado nada sobre a letra. vinícius tornou a pedir para ele tocar e o baden então perguntou:

- espera aí, vinícius, tá tudo certo, mas... cadê a letra?

- a letra? bom, na verdade aconteceu uma coisa, é... eu não vou fazer essa letra mais não!

- como assim? estamos aqui, só nós dois, juntos desde cedo, tocando e bebendo, agora são altas horas e você me diz que não vai fazer a letra! o que houve?

- não foi nada demais. mas, eu prefiro não dizer, vamos deixar isso pra lá.

- não, vinícius, agora você vai me dizer o que houve.

- sabe o que é badinho, essa música que você fez é plágio!

- plágio?! como assim, vinícius?

- é, badinho, um plágio!

- não, vinícius, você tá enganado...

- é, baden, eu tenho certeza. por isso não vou fazer essa letra. depois vai sair nos jornais: 'a dupla baden e vinícius plageiam...'. fica chato, entende? 

- mas, vinícius, essa melodia me veio por inteira, eu fiz de uma vez, não pode ser plágio!

- é sim, baden, tenho certeza!

- mas plágio de quê, de quem?

- ora, baden, isso aí é um prelúdio de chopin!

- não, vinícius, você está enganado. você bebeu demais e está confundindo as bolas.

- não, baden, você foi quem bebeu demais. fez uma música de chopin e tá achando que é sua.

- mas, vinícius, eu conheço os prelúdios de chopin, estudei todos. te garanto que não tem nada de chopin nessa música!

- eu também conheço, baden, meu ouvido não falha. isso aí é chopin com certeza! quer ver só? eu vou acordar minha mulher que é formada em piano e conhece tudo, espera aí...

- não faz isso, vinícius. tá muito tarde e a gente tá com um bafo danado...

- tudo bem, ela já ta acostumada.

e lá foi vinícius chamar sua mulher que, na época, era a lucinha proença. ela chegou na sala sem saber o que estava acontecendo, mas vendo a cena, perguntou:

- oi, baden, tudo bem? vocês querem um café?

- não, lucinha, sobretudo não vamos misturar... obrigado!

vinícius retomou seu lugar e, dirigindo-se a baden, disse meio ríspido:

- toca! 

baden executou e vinícius ficou esperando algum comentário da lucinha que, em silêncio, não sabia o que dizer diante da visível expectativa do poeta:

- como é, você não vai dizer nada?

- como assim, o que você quer que eu diga?

- toca de novo, baden!

ao final desse bis, vinícius novamente perguntou para a mulher:

- isso não é chopin?

- não.

- é uma canção romântica, é muito bonita, mas não é chopin.

- ah, então você também tá contra mim?

fez-se então um silêncio que confirmou um grande mau entendido da parte do poeta que, com muita astúcia, concluiu:

- então chopin esqueceu de fazer essa!

vinícius pegou o papel e caneta, e escreveu quase que instantaneamente uma belíssima poesia, e a música foi batizada de "samba em prelúdio"


samba em prelúdio

eu sem você não tenho porque
porque sem você não sei nem chorar
sou chama sem luz, jardim sem luar
luar sem amor, amor sem se dar
e eu sem você sou só desamor
um barco sem mar, um campo sem flor
tristeza que vai, tristeza que vem
sem você, meu amor, eu não sou ninguém
ah, que saudade
que vontade de ver renascer nossa vida
volta querido
os meus braços precisam dos teus
teus abraços precisam dos meus
estou tão sozinha
tenho os olhos cansados de olhar para o além
vem ver a vida
sem você, meu amor, eu não sou ninguém


sensacional!

volto em breve com mais baden!

abraços, meu povo!

domingo, 3 de julho de 2011

conhecer é ver-se livre do preconceito.

jair rodrigues interpretando "disparada" de geraldo vandré e theo de barros
II festival da música popular brasileira, organizado pela tv record em 1966

um dia eu conto a história desse festival.

por hoje basta o vídeo por si só pra nos inspirar em mais essa semana que está só começando.

boa segunda a todos. até breve!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

enfim, os três mal amados.

olá, pessoas que ainda frequentam este blog que parece (só parece) abandonado. ultimamente, tem sido poucas as minhas reflexões por aqui, é verdade. mas continuam mantendo a mesma essência de antes. só que com menos tempo para serem exploradas. e por isso, peço desculpas.

hoje volto para encerrar a saga dos mal amados de joão cabral de melo neto, como prometido. aconselho que, caso você não tenha lido os post anteriores a respeito desta obra, faça-o antes de continuar a ler este : "então tá, vamos falar de amor... e poesia." e "o segundo dos mal amados".

 joão cabral de melo neto

também lembro que disse que voltaria não só com o primeiro dos mal amados, mas também com os três mal amados na versão de carlos drummond de andrade. bom, na verdade, drummond que foi a grande inspiração de joão cabral de melo neto a escrever essa poesia de anti-amor.

o poema "quadrilha" faz parte do primeiro volume lírico de drummond entitulado "alguma poesia", de 1930. mil novecentos e trinta! de composição breve, este tipo de "poema piada", como era chamado pelos modernistas, de apenas uma única estrofe "é uma radiografia da hipocrisia mundana"...

quadrilha

joão amava teresa que amava raimundo
que amava maria que amava joaquim que amava lili
que não amava ninguém.
joão foi para os estados unidos, teresa para o convento,
raimundo morreu de desastre, maria ficou para tia,
joaquim suicidou-se e lili casou com j. pinto fernandes
que não tinha entrado na história.

esse poema inspirou não só joão cabral de melo neto, mas também o compositor osvaldo lacerda que o musicou. e enquanto eu estava escrevendo este post, lembrei que chico buarque dá uma pincelada nesta quadrilha em uma de suas músicas... mas essa vai ter que ficar pra depois! (pelo visto não esgoto esse assunto hoje...!)

sem mais enrolações, com vocês, palavras de joão:

olho teresa, vejo-a sentada aqui a meu lado. a poucos centímetros de mim. a poucos centímetros, muitos quilômetros. por que essa impressão de que precisaria de quilômetros para medir a distância, o afastamento em que a vejo nesse momento?

olho teresa como se olhasse o retrato de uma antepassada que tivesse vivido em outro século. ou como se olhasse um vulto em outro continente, através de um telescópio. vejo-a como se cobrisse a poeira tenuíssima ou o ar quase azul que envolvem as pessoas afastadas de nós muitos anos e léguas.

posso dizer dessa moça a meu lado que é a mesma teresa que durante todo o dia de hoje, por efeito do gás do sonho, senti pegada a mim?

esta é a mesma teresa que na noite passada conheci em toda intimidade? posso dizer que a vi, falhei-le, posso dizer que a tive em toda intimidade? que intimidade existe maior que a do sonho? a desse sonho que ainda trago em mim como um objeto que me pesasse no bolso?

ainda me parece sentir o mar do sonho que inundou meu quarto. ainda sinto a onda chegando à minha cama. ainda me volta o espanto de despertar entre móveis e paredes que eu não compreendia pudessem estar enxutos. e sem nenhum sinal dessa água que o sol secou, mas de cujo contacto ainda me sinto friorento e meio úmido (penso agora que seria mais justo, do mar do sonho, dizer que o sol o afugentou, porque os sonhos são como as aves, não apenas porque crescem e vivem no ar).

teresa aqui está, ao alcance de minha mãe, de minha conversa. por que, entretanto, me sinto sem direitos fora daquele mar? ignorante dos gestos, das palavras?

o sonho volta, me envolve novamente. a onda torna a bater em minha cadeira, ameaça chegar até a mesa. penso que, no meio de toda essa gente de terra, gente que parece ter criado raízes, como um lavrador ou uma colina, sou o único a escutar esse mar. talvez teresa...

talvez teresa... sim, quem me dirá que esse oceano não nos é comum?

posso esperar que esse oceano nos seja comum? um sonho é uma criação minha, nascida de meu tempo adormecido, ou existe nele uma participação de fora, de todo o universo, de uma geografia, sua história, sua poesia?

o arbusto ou a pedra aparecida em qualquer sonho pode ficar indiferente à vida de que está participando? pode ignorar o mundo que está ajudando a povoar? é possível que sintam essa participação, esses fantasmas, essa teresa, por exemplo, agora distraída e distante? há algum sinal que faça compreender termos diso, juntos, peixes de um mesmo mar?

donde me veio a ideia de que teresa talvez participe de um universo privado, fechado em minha lembrança, desse mundo que através de minha fraqueza eu me compreendi ser o único onde será possível cumprir os atos mais simples, como por exemplo caminhar, beber um copo de água, escrever meu nome, nada, nem mesmo teresa. 

bom, vou deixar os devaneios sobre esse texto pra vocês, meu caros leitores. mas farei as devidas reflexões no próximo post. só não o faço neste, porque já me estendi demais e porque quero dividir com vocês o prazer de elevar o pensamento até onde alcança uma poesia por si só. e que assim seja.

até breve. 




domingo, 19 de junho de 2011

"ouça-me bem, amor"

devido ao sucesso (rs) do post em que eu contei sobre a verdadeira história da música "conversa de botas batidas" do los hermanos ("poesia no noticiário."), volto hoje com mais um post desse.

agora trago uma lenda da música brasileira, um dos principais nomes quando o assunto é samba: angenor de oliveira, mais conhecido como cartola. 


carioca, boêmio, deu nome e cores à estação primeira de mangueira e recebeu este apelido porque quando trabalhava como pedreiro usava um chapéu para que o cimento não lhe sujasse a cabeça, o qual chamava de cartola. (se quiser saber mais sobre a vida desse ícone, clique aqui.)

não consegui - e peço desculpas por isso - encontrar nada muito concreto, mas o que pude ler pelo espaço cibernético é que cartola, ao compor a música "a vida é um moinho", inspirou-se nos sentimentos que vinham à sua alma numa noite em que passou em claro quando recebeu a notícia de que sua filha agora pertencia às esquinas da cidade e àqueles que estavam dispostos a pagar pelo prazer.

não se sabe até que ponto isso é verdade, pois, como bem lembrado (obrigada, querido), cartola era estéril. porém adotou ronaldo silva e criou glória regina, filha de sua segunda esposa, dona zica. independente da veracidade da história, vale a pena acompanhar a letra dessa música.


a vida é um moinho

ainda é cedo amor
mal começaste a conhecer a vida
já anuncias a hora de partida
sem saber mesmo o rumo que irás tomar
preste atenção, querida
embora saiba que estás resolvida
em cada esquina cai um pouco a tua vida
e em pouco tempo não serás mais o que és
ouça-me bem, amor
preste atenção, o mundo é um moinho
vai triturar seus sonhos tão mesquinhos
vai reduzir as ilusões a pó
preste atenção, querida
de cada amor tu herdarás só o cinismo
quando notares, estás a beira do abismo
abismo que cavastes com teus pés.

a complexidade de seus sentimentos traduzida em versos simples, somada à melancólica melodia nos faz imaginar - mesmo que essa história não seja real - a dor de um pai ao receber uma notícia como essa. cartola é realmente um gênio. um gênio do morro. um gênio popular.

com certeza eu volto pra falar sobre outras obras desse grande artista que, diga-se de passagem, sou muito fã. mas pra você que não conhece mais do que "as rosas não falam", presenteie sua alma com samba, poesia e amor... ouça cartola!

beijo, meu povo!


domingo, 12 de junho de 2011

"e que minha loucura seja perdoada..."

em contraste a todo o amor exalado neste dia, uma oração aos que o passaram longe de quem ama. ainda que por opção...


oswaldo montenegro - metade


que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o anseio.
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.

que a música que eu ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza.
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante.
porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos.
porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço.
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
porque metade de mim é o que penso,
mas a outra metade é um vulcão.

que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo se torne ao menos suportável.
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância.
porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
e que o teu silêncio me fale cada vez mais.
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
e que ninguém a tente complicar.
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção.

e que a minha loucura seja perdoada.
porque metade de mim é amor,
e a outra metade também.



encerro meu post por aqui. sem mais. 




(em tempo: se você acompanhou o vídeo com a poesia escrita logo em seguida, vai perceber que ele pula alguns versos. desculpem-me, mas foi o único vídeo decente que consegui encontrar.)

domingo, 5 de junho de 2011

o segundo dos mal amados.

pois é... voltei!

não to conseguindo encontrar tempo nessa nova rotina pra me dedicar ao blog. mas não deixo de pensar nele no fim do dia, quando toda loucura fica pra trás e eu posso enfim sentar na frente dessa máquina. só que o cansaço é tamanho, que não consigo sequer começar a escrever qualquer coisa que seja... e como não quero escrever por escrever (acho que já falei isso aqui), prefiro encontrar um tempinho, mesmo que seja no finzinho do final de semana, pra escrever pra vocês.

como dito no post: "então tá, vamos falar de amor... e poesia.", hoje trago o segundo mal amado de joão cabral de melo neto... com vocês, palavras de raimundo:

"maria era a praia que eu frequentava certas manhãs. meus gestos indispensáveis que se cumpriam a um ar tão absolutamente livre que ele mesmo determina seus limites, meus gestos simplificados diante de extensões de que uma luz geral aboliu todos os segredos.

maria era sempre uma praia, lugar onde me sinto exato e nítido como uma pedra - meu particular, minha fuga, meu excesso imediatamente evaporados. maria era o mar dessa praia, sem mistério e sem profundeza. elementar, como as que podem ser mudadas em vapor ou poeira.

maria era também uma fonte. o líquido que começaria a jorrar num momento que eu previa, num ponto que eu poderia examinar, em circunstâncias que eu poderia controlar. eu aspirava acompanhar com os olhos o crescimento de um arbusto, o surgimento de um jorro de água.

maria era um copo vago, impreciso. eu estava ciente de todos os detalhes de seu corpo, que poderia reconstruir à minha vontade. sua boca, seu riso irregular. todos esses detalhes não me seria difícil arrumá-los, recompondo-a, como num jogo de armar ou uma prancha anatômica.

maria era também, em certas tardes, o campo cimentado que eu atravessava para chegar em algum lugar. sozinho sobre a terra e sob um sol que me poderia evaporar de toda nuvem.

maria era também uma árvore. um desses organismos sólidos e práticos, presos à terra com raízes que exploram e devassam seus segredos. e ao mesmo tempo lançadas para o céu, com quem permutam seus gases, seus pássaros, seus movimentos.

maria era também uma garrafa de aguardente. aproximo o ouvido dessa forma correta e explorável e percebo o rumor e os movimentos de sonhos possíveis, ainda em sua matéria líquida, sonhos de que disporei, que submeteria a meu tempo e minha vontade, que alcançarei com a mão.

maria era também o jornal. o mundo ainda quente, em sua última edição e mais recente.

maria era também um livro: susto de que estamos certos, susto que praticar, com que fazer os exercícios que nos permitirão entender a voz de uma cadeira, de uma cômoda, susto cuidadosamente oculto, como qualquer animal venenoso entre folhas claras e organizadas dessa floresta numerada que leva dísticos explicativos: poesia, poema, versos.

maria era também a folha em branco, barreira oposta ao rio impreciso que corre em regiões de alguma parte de nós mesmos. nessa folha eu construirei um objeto sólido que depois imitarei, o qual depois me definirá. penso para escolher: um poema, um desenho, em cimento armado - presenças precisas e inalteráveis, opostas a minha fuga.

maria era também o sistema estabelecido de antemão, o fim onde chegar. era a lucidez, que, ela só, nos pode dar um modo novo e completo de ver uma flor, de ler um verso."

e nada faria sentido sem o amor. sem aspas.

raimundo não inspira o mesmo sentido de amor que joaquim, aquele amor sofredor, que mata de tanto que dói. que SE mata de tanto que dói. mas inspira a mesma intensidade. um amor distante e próximo, íntimo e desconhecido... um amor solitário.

na verdade, joaquim é o terceiro mal amado. portanto, quando eu voltar a dissertar sobre esta genialidade de joão cabral de melo neto, volto com o primeiro dos mal amados mais os três mal amados na versão de carlos drummond de andrade.

amor, minha gente. até a próxima.



marmper


segunda-feira, 30 de maio de 2011

cozinhar é uma arte.

segunda: dia das pessoas reclamarem da semana que só tá começando, dia de amargurar a ressaca moral do final de semana, dia de infernizar aquele seu amigo cujo time perdeu na rodada do domingo... e dia de começar a dieta!

pensando sobre qual seria o assunto de hoje, uma grande oceanóloga faz a seguinte sugestão: "por que você não escreve um post gastronômico no seu blog? eu ia adorar!" e como não pensar em comida nesses dias tão frios?

então, inspirada por essa fria segunda feira e por aquela que quer cupcakes com café, trago esta arte inserida em outra: no cinema. filmes assim despertam nosso paladar, nosso olfato, ainda que a tecnologia não tenha sido capaz de inventar uma tv que transmita cheiro ou gosto. ou to errada?

gastronomia é tema para vários filmes, é verdade... a comédia romântica "no reservations" (em português, "sem reservas"), a animação da pixar "ratatouille", o envolvente e clássico "chocolate"... e tantos outros que eu tenho vontade de assistir, mas ainda não tive a oportunidade, como "la grande bouffé", "vatel", "como agua para chocolate"... são tantos! sem contar os documentários... mas isso, eu conto num próximo post.

apesar de todos esses títulos serem estrangeiros, hoje indico um nacional que aborda brilhantemente este tema.


"estômago", baseado no livro "pólvora, gorgonzola e alecrim", de lusa silvestre, foi lançado em 2007 e ganhou diversos prêmios desde então. é um filme inteligente e com boas doses de humor, apesar de retratar uma realidade nada engraçada. é essa sensibilidade que encanta. sem contar a trilha sonora, na minha opinião, um dos personagens principais desta obra, além, claro, da comida.

"na vida há os que devoram e os que são devorados. raimundo nonato, nosso protagonista, descobre um caminho à parte: ele cozinha. e é nas cozinhas de um boteco, de um restaurante italiano e de uma prisão - o que ele fez para acabar ali? - que nonato vive sua intrigante história. e também aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados. regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua parte - e eles sabem, mais do que ninguém, qual é a parte melhor.  uma fábula nada infantil sobre o poder, o sexo e a culinária."

(quer ler mais? clique aqui.)

acompanhe o trailer do filme:


esse filme, sem dúvida, é um dos melhores nacionais que já assisti. vale realmente a pena! meus próximos já devem ter me ouvido falar dele... e desculpem se me tornei repetitiva com esse post. mas pensando em arte e gastronomia, não pude evitar trazer essa sugestão.

espero que tenham gostado... afinal, quem não sente verdadeiro prazer ao comer?

um beijo gastronômico.


sábado, 28 de maio de 2011

poesia no noticiário.

hoje eu quero começar meu post agradecendo aos comentários que tive sobre meu despretensioso blog. só me motiva a continuar dividindo essas tantas coisas que borbulham na minha mente... obrigada mesmo! 

apesar de eu não ter postado ontem, fiquei pensando em algo especial pra trazer aqui... e cheguei no tema de hoje. prepare-se! o post de hoje, apesar de longo, vai emocionar...

eu sou muito fã de los hermanos. não só pela genialidade dos arranjos e da melodia, mas principalmente pelas letras. verdadeiras poesias cantadas.

uma grande amiga minha, também muito fã de los, um dia me contou sobre a história que estava por trás da canção "conversa de botas batidas"... fui atrás pra saber mais. e o que achei, foi surpreendente...

"desabamento deixa três feridos; duas ainda estão sob escombros - pelo menos três pessoas ficaram feridas no desabamento do prédio de quatro andares no centro do Rio, às 15h15 de hoje (25 de setembro de 2002). no local funcionavam uma lanchonete, parcialmente em obras, uma loja de carimbos e cópias de chaves, e o hotel "linda do rosário." houve uma seqüência de estalos em um dos pilares do edifício, minutos antes do acidente. isso deu tempo para que muitas pessoas deixassem o local. sete edifícios ao redor foram interditados. até o início da noite, a secretaria estadual de defesa civil dispunha da informação de que duas pessoas estariam sob os escombros.
 
(...) em nota oficial, a secretaria de urbanismo do município esclareceu que "o desabamento ocorreu quando operários retiravam o mezanino do térreo, abalando a estrutura do prédio". o documento afirma ainda que as obras não contavam com a supervisão de nenhum engenheiro ou técnico responsável.
 
houve pânico assim que os estalos foram ouvidos, cerca de 20, 10 e 5 minutos antes do desabamento. O porteiro do "linda do rosário", raimundo barbosa de melo, de 37 anos, estava com a mulher na recepção do hotel e, ao som do primeiro estampido, avisou aos demais funcionários do hotel que saíssem do prédio imediatamente. no momento em que descia a escada, lembrou das duas pessoas que ocupavam um quarto. "interfonei e cheguei a bater na porta do quarto, mas não responderam", contou. (...)"

(leia essa reportagem na íntegra aqui)

"vítimas de desabamento são reconhecidas no rio - as vítimas do desabamento do prédio 55 da rua do rosário no rio de janeiro foram reconhecidas hoje. dois corpos foram localizados ontem à noite pelos bombeiros em meio aos escombros da construção que ruiu na última quarta-feira.

maria das graças mendes rocha, de 47 anos, funcionária da caixa econômica federal, e ruy diniz, de 71 anos, professor, estavam hospedados no hotel no momento da tragédia. (...)

o corpo de maria das graças foi resgatado hoje cedo após buscas que empregaram tecnologias de rastreamento e um cão labrador. o outro corpo, do professor diniz, foi localizado logo depois. ronaldo diniz, filho da vítima, não queria a divulgação do nome de seu pai em virtude das circunstâncias que envolveram sua morte, que poderiam denegrir sua imagem."

(Leia essa reportagem na íntegra aqui)

existem várias versões dessa história de amor. o que se sabe é que este casal se reencontrou após muitos anos e passou a reviver o amor que, pelas circunstâncias da vida, tinha ficado pra trás. encontravam-se às escondidas naquele hotel. alguns dizem que a família de ambos era contra, por conta da idade avançada do casal, e outros dizem que esse seria um caso extraconjugal. e ninguém sabe dizer se eles temiam ser descobertos, e por isso não responderam aos chamados do funcionário do hotel, ou se resolveram assumir aquela história para que, finalmente, pudessem estar juntos para todo o sempre, mesmo que pra isso, a morte fosse sua única testemunha.

marcelo camelo escreveu essa música, e com toda sua sensibilidade fez dessa história uma linda história de amor. mesmo que trágica... e convenhamos, qual história de amor não é trágica?

ouça e acompanhe a letra dessa canção:


conversa de botas batidas

- veja você, onde é que o barco foi desaguar.
- a gente só queria o amor...
- deus parece às vezes se esquecer!
- ai, não fala isso, por favor... esse é só o começo do fim da nossa vida. deixa chegar o sonho... prepara uma avenida, que a gente vai passar...

- veja você, quando é que tudo foi desabar. a gente corre pra se esconder...
-... e se amar, se amar até o fim. sem saber que o fim já vai chegar

- deixa o moço bater, que eu cansei da nossa fuga. já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas não ter o seu lugar

- abre a janela agora, deixa que o sol te veja. é só lembrar que o amor é tão maior, que estamos sós no céu. abre as cortinas pra mim, que eu não me escondo de ninguém. o amor já desvendou nosso lugar e agora está de bem.

- deixa o moço bater, que eu cansei da nossa fuga. já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas não ter o seu lugar.

- diz quem é maior que o amor? me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora.
- vem, vamos além. vão dizer que a vida é passageira, sem notar que a nossa estrela vai cair.



não disse que o post de hoje ia emocionar?

até a próxima, pessoal.

ah! e não deixem de comentar... se não conseguirem por aqui, pode ser por orkut, face, twitter... leio tudo!

beijo, outro, tchau.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

então tá, vamos falar de amor... e poesia.

olá, pessoas. sigo firme e forte com mais um post pra quem ousa perder um tempinho do dia pra ler esse humilde blog..

hoje vou falar sobre o amor. mas não um amor qualquer... um amor arrebatador! daqueles que chegam a doer, e daqueles que todos deveriam sentir um dia. ou pelo resto da vida.

o amor retratado nos versos de joão cabral de melo neto em "os três mal amados".

se você já ouviu o grupo pernambucano "cordel do fogo encantado" (que infelizmente não existe mais...), provavelmente já deve ter ouvido uma parte dessa poesia sendo declamada genialmente por lirinha, o vocalista da banda. se não viu, veja aqui:


a banda traz apenas uma parte das palavras de joaquim, um dos três mal amados. e eu trago aqui, suas palavras na íntegra... é um pouquinho longo, mas eu garanto que vale a pena ler! mas se rolar aquela preguiça de ler tudo, pode ouví-la clicando aqui.

"o amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. o amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. o amor comeu meus cartões de visita. o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

o amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. o amor comeu metros e metros de gravatas. o amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. o amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

o amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-x. o amor comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

o amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. comeu em meus livros de prosa as citações em verso. comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

o amor comeu as frutas postas sobre a mesa. bebeu a água dos copos e das quartinhas. comeu o pão de propósito escondido. bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

o amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

o amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. o amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre a mulher, sobre marcas de automóvel.

o amor comeu meu estado e minha cidade. drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.

comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

o amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

o amor comeu minha paz e minha guerra. meu dia e minha noite. meu inverno e meu verão. comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."


eu sempre sinto uma coisinha pesada no peito quando leio isso. e honestamente, nem sei dizer o que é...

aí você me pergunta: mas e os outros dois mal amados? os outros dois mal amados, raimundo e joão, voltam em um próximo post! não percam...

amor a todos...





quarta-feira, 25 de maio de 2011

e a culpa é de quem?

estava eu, num momento pós-prandial, vendo as atualizações dessas redes sociais que são um vício e conversando com um amigo sobre meu blog. eis que ele me pergunta: "sobre o que vai escrever hoje?". foi então que percebi que não tinha nenhuma ideia muito concreta sobre o papo furado de hoje.

já dividi com vocês uma música e um livro que gosto muito. então resolvi falar sobre um filme que está na minha lista dos favoritos. como minha intenção não é só trazer gostos pessoais, mas também instigá-los ao novo, não vou falar sobre um filme hollywoodiano ou algum nacional de sucesso, que claro, também constam nessa minha lista.


assisti esse filme (em português, "a culpa é do fidel") há uns dois anos atrás... não lembro direito, na poltrona de couro vermelho do extinto cinema gemini, lá na paulista, na companhia de um alguém especial.

longe de mim querer parecer "cult" ou qualquer outra rotulagem do gênero. eu só acho uma pena ver tanta coisa boa sendo marginalizada só porque não é campeão de bilheteria.

este filme francês, lançado em 2006 sob a direção de julie gavras, retrata a história de anna (nina kervel-bey), uma menina de nove anos que se vê dividida entre a escola católica e a problemática familiar. mostra, com humor inteligente e sobriedade encantadora, o lado de uma criança frente o engajamento político de seus pais, onde, após relutar contra tantas mudanças, passa a obter uma nova compreensão de mundo.

acompanhem o trailler:

 

a ideia deste post, na verdade, é apenas trazer uma sugestão de bom filme. espero que o trailler tenha despertado pelo menos uma curiosidade... vale a pena!

e aí, gostaram? se assistirem, não esqueçam de me contar o que acharam!
obrigada (sempre) pelas visitas...

beijo no coração.



terça-feira, 24 de maio de 2011

"todo momento de achar é um perder-se a si próprio."

e pra aqueles que se importam, cá estou novamente para mais um post sensacional (cof cof!)... rs

hoje resolvi dividir com vocês as impressões sobre minha última leitura:



uma pessoa muito querida, num gesto grandioso, emprestou-me esse livro num momento, digamos, atribulado da minha vida. e foi uma dessas leituras que nossos sentimentos se misturam ao do personagem.

eu sempre gostei da personalidade que esta autora traz em suas escritas, embora conheça poucas de suas obras. suas escritas trazem tanto de si, quanto ela quer se esconder nela mesma. pelo menos é o que sinto...  entendedores do assunto podem achar que estou viajando, mas acredito realmente que a grandeza de uma leitura está exatamente nisso: sentir. pra mim, não existe certo e errado naquilo que se sente através das escritas de uma outra pessoa. basta apenas que as sinta. os olhos são mesmo as janelas da alma.

se vocês tiverem interesse, encontrei esse site, homônimo à escritora, que conta um pouco mais sobre sua vida e suas obras.

"a paixão segundo G.H." é uma leitura bastante densa. eu particularmente tive que ler várias vezes as mesmas linhas pra conseguir captar a essência de certas passagens. é uma viagem ao interior de um personagem que te faz querer viajar dentro de si e, a partir daí, começar a se questionar. pode parecer demagogia eu dizer que me refiz ao ler este livro, mas meus questionamentos não se limitaram apenas a minha mente. tive que colocá-los pra fora pra que pudesse fazer algum sentido. e é esse o segredo.

vale mesmo a pena se perder nessas páginas, mas fica um alerta: é preciso coração aberto para que esta leitura não se torne apenas uma mera leitura e, por assim dizer, uma perda de tempo.

eu encerro o post de hoje com a nota que clarice deixa no começo do livro "a possíveis leitores", que se assemelha muito ao que escrevi logo acima. e eu juro que escrevi isso antes de lembrar desses dizeres da autora:

"Este livro é como um livro qualquer.
Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas
por pessoas de alma já formada.
Aquelas que sabem que a aproximação,
do que quer que seja, se faz gradualmente
e penosamente - atravessando inclusive
o oposto daquilo que se vai aproximar.
Aquelas pessoas que, só elas,
entenderão bem devagar que este livro
nada tira de ninguém.
A mim, por exemplo, o personagem G.H.
foi dando pouco a pouco uma alegria difícil;
mas chama-se alegria."

espero que tenham curtido este post que fiz com tanto carinho e verdade, revelando uma parte de mim mais até do que gostaria. literatura nunca foi o meu forte, confesso. apenas gosto de ler e me encanto com o que essas leituras me fazem sentir.

beijos e obrigada por me acompanharem!




segunda-feira, 23 de maio de 2011

"a vida é tão rara..."

hoje volto com um post sobre algo que gosto muito: música.

adoro quando me identifico com algo que ouço. aquela música que me lembra um momento, um alguém especial ou que simplesmente traga sensações e emoções sem muitos por quês ou razões.

paciência, do lenine, é uma dessas.

aliás, é a descrição que trago no meu profile do orkut já há algum tempo... (se quiser dar uma espiadinha clique aqui!)

essa canção é divinamente atemporal. na época, eu lembro que eu pensava nela como uma espécie de mantra, pelo momento que eu estava vivendo. hoje lembrei dela e fiquei com vontade de ouví-la novamente, e era exatamente o que eu precisava sentir...

dá uma olhada na versão acústica dela:


gostaram?
 
bom, com certeza vou voltar aqui pra dissertar mais sobre esse assunto, e por isso não vou esgotá-lo hoje.

por hoje é só! um beijo, minha gente.


(ah! queria muito agradecer aos que se interessaram em dar um pulinho aqui e checar essa brincadeira sem graça que eu criei... rs! tive 45 visitas. eu sei que nem é muito, mas eu achei que minhas bobagens iriam ecoar por aqui e que eu iria falar com os ventos! continuem acompanhando e não esqueçam de deixar seus comentários! grande beijo)